Artesãs baianas ressignificam tecido de chita em coleção de moda que une ancestralidade e técnicas tradicionais
06/12/2025
(Foto: Reprodução) Artesãs baianas ressignificam tecido de chita em coleção de moda
Muitas vezes associada à vida doméstica e às economias populares, o tecido de chita foi ressignificado em uma coleção de moda que une ancestralidade e técnicas tradicionais, feita por artesãs da Associação Artesanal Chitarte, de Cachoeira, no Recôncavo baiano. As peças foram inspiradas em mulheres que moldaram a vida das profissionais, como suas mães, avós e vizinhas.
👗 👚 O tecido é leve, feito de algodão e geralmente marcado por estampas fortes. Na coleção, aparece como protagonista das criações, que contam com bordado, recortes, sementes, couro, sacolas plásticas e retalhos.
Ao longo de oito meses, a equipe composta por 17 artesãs ficou imersa em experimentações com cores, tramas e composições para ampliar o repertório, mas sem perder a essência do bordado e das peças que já produziam.
📲 Clique aqui e entre no grupo do WhatsApp do g1 Bahia
Segundo a mestra em Gestão de Políticas Públicas e artesã da Chitarte, Bárbara Nunes, o tecido de chita chegou à cidade de Cachoeira no período colonial. Em entrevista ao g1, ela explicou que o objetivo era servir como vestes para negros e negras que foram escravizados.
"A chita se espalhou por todo o território brasileiro, se popularizou, e a gente sabe que a partir do momento que ela se populariza, a história vai se perdendo. Então, a gente faz, também, uma releitura desse tecido, destacando o protagonismo e o pertencimento dele que, muitas vezes, as pessoas não conhecem".
Couro e sementes foram utilizadas nas peças de chita
Caroline Moraes/Divulgação
A memória também está presente no nome escolhido para a coleção: "Das Marias". As peças serão lançadas no dia 13 de dezembro, no Museu A Casa do Objeto Brasileiro, em São Paulo, que é referência em projetos e exposições de artesanato e design.
O significado de Maria é muito forte! É um nome que, muitas vezes, era falado de forma pejorativa quando não se sabia o nome de uma mulher, principalmente das negras.
Artesãs baianas colocam chita como protagonista
Caroline Moraes/Divulgação
Bárbara Nunes também destacou que a viabilidade da coleção foi possível graças ao Laboratório de Inovação Artesanal (LAB) da Rede Artesol, organização da sociedade civil sem fins lucrativos, que atua há mais de 25 anos para fortalecer o artesanato de tradição cultural no Brasil.
A iniciativa promove capacitação, inclusão digital e acesso a mercados, valorizando o fazer manual como instrumento de desenvolvimento social, cultural e ambiental sustentável.
Para a antropóloga e coordenadora do projeto Rede Artesol Artesanato do Brasil, Helena Kussik, executar esse tipo de projeto é muito importante para a valorização cultural e social do artesanato.
"É uma demanda que veio muito do nosso diálogo com as associações, com as artesãs que fazem parte da rede, porque elas têm o desejo e a necessidade de inovar, de criar novos produtos, de ter coleções, de poder apresentar isso de forma organizada no mercado", disse.
Neste ano, a organização esteve presente em 25 estados e 539 municípios, capacitou 290 artesãos em campo e acompanhou três grupos no Laboratório de Inovação Artesanal (LAB). Isso impactou diretamente 85 artesãos e resultou na criação de 38 novos produtos, fortalecendo renda, autonomia feminina, inovação e sustentabilidade cultural.
Tecido de chita é ressignificado em coleção de moda feita por artesãs baianas
Caroline Moraes/Divulgação
Bolsa feita por artesãs da Associação Artesanal Chitarte
Caroline Moraes/Divulgação
LEIA TAMBÉM:
Moda com dendê: destaques no cenário nacional, marcas baianas Dendezeiro e Meninos Rei se consolidam na SPFW
Da jardinagem às passarelas: modelo conquistou carreira internacional após ser descoberto no subúrbio de Salvador
IZA viraliza após surgir em perfil internacional de moda com colete do Olodum
Veja mais notícias do estado no g1 Bahia.
Assista aos vídeos do g1 e TV Bahia 💻