Educadoras explicam por que apresentação com aluno negro amarrado em tronco não serve para conscientizar sobre racismo

  • 27/11/2025
(Foto: Reprodução)
Colégio privado da Bahia faz apresentação com aluno negro amarrado em tronco Especialistas em educação antirracista apontam que a atividade escolar em que um aluno negro foi amarrado a um tronco no Dia da Consciência Negra perpetua a vitimização da pessoa negra. A cena, que aconteceu no Colégio Adventista de Alagoinhas, cidade a cerca de 60 km de Feira de Santana, foi alvo de críticas na quarta-feira (26), após imagens circularem nas redes sociais. O g1 conversou com a escritora, professora e influenciadora Bárbara Carine, e com a professora Luciana Ramos, para entender por que a metodologia escolhida pela escola não ajuda a conscientizar sobre o racismo. 📲 Clique aqui e entre no grupo do WhatsApp do g1 Feira de Santana e região Para Bárbara Carine, que criticou a escolha da instituição por meio de um vídeo nas redes sociais, a apresentação valoriza apenas a pessoa branca, a exemplo da princesa Isabel retratada ao assinar a Lei Áurea, e perpetua a pessoa negra no lugar de vítima. Ela aponta que o currículo escolar costuma potencializar apenas os sujeitos e aspectos culturais ligados à branquitude nas mais diversas esferas, como ciência, filosofia e literatura. "A escola é um espaço de potencialização das múltiplas existências. Não faz sentido a gente pensar em uma escola que potencialize apenas o sujeito branco", contesta a professora, autora do livro "Como ser um educador antirracista", vencedor do Prêmio Jabuti 2024 na categoria "Educação". "As existências brancas, geralmente, são positivadas no currículo escolar. Ao passo que a criança, o jovem negro, quando vai se ver no currículo escolar, se vê em um lugar de violência, chicoteado em um tronco. É tudo que se tem para contar para o menino negro na escola?". Aluno foi amarrado em tronco para representar escravizado Redes sociais Ela defende que, embora a escravidão seja parte da história do povo negro no Brasil, há outras perspectivas determinantes na trajetória da população. "As pessoas negras são descendentes dos primeiros humanos, das pessoas que desenvolveram as primeiras formas de constituição societária, de reis, de rainhas, de matemáticos, de químicos, de filósofos, de médicos, dos primeiros engenheiros, arquitetos, arquitetas. A gente produziu conhecimento, produziu escrita, a gente produziu muita coisa da ancestralidade. A escola, no mês da consciência negra, deve ajudar a construir uma consciência negra", cobrou. Eu Te Explico #159: Educação antirracista e o papel de pessoas negras e não negras na luta por direitos Para a professora e doutora em Educação, Luciana Ramos, que se apresenta como educadora antirracista, o maior erro da escola foi insistir em contar a história do ponto de vista do colonizador. Ela destaca que, diante das determinações da Lei 10.639/2003, que obriga o ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena nos currículos escolares, não há mais desculpas para o uso de "cenas de violência", como a escolhida pela instituição de ensino de Alagoinhas, em atividades pedagógicas. "[Eles] Não conseguem ver o mundo e as histórias que constituem diferentes povos, a não ser pela mesma perspectiva e pela mesma narrativa. Já temos muitas literaturas que apresentam outras narrativas da história, mas muitos professores insistem em repetir a narrativa de dor e violência contada pelo colonizador". Na avaliação das educadoras, uma abordagem que relembrasse a história de heróis negros poderia, de fato, possibilitar a construção de uma consciência negra. "Tem um mundo de coisas. A escravidão é uma parcela diminuta da nossa história. O que não dá também é para imaginar que vai fazer encenação de escravidão", diz Bárbara Carine. "Poderiam contar sobre a história dos nossos heróis Malês, de Luís Gama, Luísa Mahin, Dragão do Mar, dos Lanceiros Negros... Tantos heróis que lutaram por nossa liberdade! [Há] atividades pedagógicas com uma abordagem a partir de referências positivas, e não de dor e violência", complementa Luciana. Entenda o caso A situação ocorreu no Colégio Adventista de Alagoinhas durante uma apresentação em referência ao Dia da Consciência Negra, celebrado na última quinta-feira (20). Imagens da apresentação circularam nas redes sociais nesta quarta (26). Nelas, é possível ver um aluno vestido com roupas rasgadas e amarrado a um tronco. Ao lado dele, um garoto branco, com chapéu de fazendeiro, segura um chicote. Em outra imagem divulgada nas redes sociais, uma aluna branca interpreta a princesa Isabel assinando a Lei Áurea. Em nota, o Colégio Adventista da Alagoinhas afirmou que, através da proposta pedagógica, promove o fortalecimento da consciência histórica e a valorização do povo negro. Leia a nota completa abaixo: "O Colégio Adventista de Alagoinhas repudia qualquer forma de racismo e mantém, como valor inegociável, o compromisso com a dignidade humana, o respeito às diferenças, a igualdade e a justiça. Esses princípios estão alinhados à filosofia da Educação Adventista, fundamentada em um ensino integral, pautado em valores cristãos e humanitários. Toda prática pedagógica é avaliada com seriedade, especialmente quando envolve questões sensíveis como relações étnico-raciais. O objetivo é refletir fielmente os valores institucionais que orientam o Colégio. Em relação às interpretações sobre fatos históricos apresentados por alunos durante atividade pedagógica realizada no Dia da Consciência Negra, a instituição lamenta profundamente qualquer entendimento que tenha sido diferente dos valores que defende. Vale destacar que os vídeos que circularam nas redes sociais consistem em trechos isolados da atividade pedagógica. Estão, portanto, desconectados de seu contexto completo, o que compromete a compreensão integral do conteúdo trabalhado. A circulação de recortes descontextualizados pode gerar interpretações equivocadas e contribui para a disseminação de informações imprecisas. O Colégio Adventista de Alagoinhas, por meio de sua proposta pedagógica e dos documentos norteadores, promove o fortalecimento da consciência histórica; a valorização do povo negro; a rejeição clara de toda forma de discriminação, e uma formação cidadã ética, responsável e antirracista." LEIA TAMBÉM: Professora é denunciada por injúria racial contra aluna de 14 anos em escola da Bahia Três PMs são condenados à prisão por tortura racial em Salvador; adolescente foi agredido e xingado por usar cabelo black power Veja mais notícias do estado no g1 Bahia. Assista aos vídeos do g1 e TV Subaé 💻

FONTE: https://g1.globo.com/ba/feira-de-santana-regiao/noticia/2025/11/27/educadoras-explicam-por-que-apresentacao-com-aluno-negro-amarrado-em-tronco-nao-serve-para-conscientizar-sobre-racismo.ghtml


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